Segunda-feira, 09.09.13
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Foto IG |
Durante a campanha eleitoral, o atual Prefeito de Búzios, por ser médico, era apresentado como aquele que tinha a receita para curar Búzios de todos os seus males. Em um município onde a Saúde era considerada como o principal problema, sua receita criou expectativas como se fosse possível, com a utilização dela, acontecer a redenção do povo de Búzios. Passados oito meses de governo, não se precisa de muita acuidade visual para verificar que a promessa de criação de “uma nova forma de governar” (página 1 do Plano de açoverno) não se realizou. O prefeito doutor iguala-se, sem tirar nem por, aos dois últimos prefeitos que prometeram mudanças no palanque mas que, ao chegarem ao governo, recorreram aos mesmos métodos usados pelos prefeitos anteriores e incorporaram outros igualmente condenáveis. Neste e nos governos anteriores, os Boletins Oficiais sumiram no início do governo, justamente quando são realizadas as principais licitações. Muitas delas com suspeitas de terem sido direcionadas para amigos e financiadores de campanha. O patrimonialismo permanece. E com muita força.
Neste e nos governos anteriores, nossos mandatários governaram para uma minoria, não resolvendo nenhum dos problemas estruturais da cidade, aqueles que afligem a uma massa enorme de moradores. A Saúde, mesmo com o doutor, continua sendo o principal problema da cidade. Questão de vida ou morte. Mais morte que vida. A educação já mostra indícios que não vai conseguir subir muitos degraus no IDEB, porque parece faltar algo fundamental na sua gestão: a democracia. Educação sem democracia é uma contradição em si. A mobilidade urbana vai sendo espremida por engarrafamentos na baixa estação, sem que o governo mexa uma palha pra mudar o quadro. As cooperativas de vans e a Salineira fazem o que querem na cidade. Ninguém fiscaliza. Ciclovias, nem pensar. Faltam recursos. Regularização fundiária, idem. O problema do esgoto depende da passagem do chapéu nos governos estadual e federal, porque recursos próprios não se têm.
Neste e nos governos anteriores, nenhum recurso público é aplicado na geração de trabalho e renda. Prometem-se sempre a construção de um Hotel-Escola, Entreposto Pesqueiro e Mercado Municipal do Produtor Rural, mas nada se cumpre. Deixa-se de construir um Hotel-Escola para a maior categoria profissional de Búzios afim de sustentar os muquiranas da política local, aqueles que nunca trabalharam na vida, profissionais da política. Incapazes de ganhar mil reais no mercado de trabalho percebem, alguns, quase cinco mil reais para dar sustentação aos Mirinhos e Toninhos da vida. Agora, aos Andrés da vida.
Não se têm recursos, porque este governo, como os governos anteriores, sustenta uma clientela de parentes, amigos e cabos eleitorais que gera um inchaço na máquina pública que a torna mastodôntica. Tornando-se pouco ágil, não atende adequadamente os moradores e ainda consome quase todos os recursos que poderiam ser utilizados em investimentos para resolver aqueles problemas estruturais da cidade citados acima. Mirinho e Toninho, historicamente só dispunham de 7% de capital de investimento porque consumiam mais de 50% com a folha de pagamento e 43% com a manutenção da máquina pública. André, "com a mesma forma de governar", dispõe dos mesmos míseros 7%. Como os prefeitos anteriores, acredita que sustentando o mastodonte vai se reeleger em 2016. Ledo engano.
Mirinho governou dessa forma e se deu mal. Toninho, também. Hoje, ambos são ex-prefeitos. Tudo indica que, se o prefeito doutor não aviar a tempo a receita prometida na campanha eleitoral, ele também se tornará mais um ex-prefeito nas próximas eleições.
É preciso saber entender o significado do movimento político-eleitoral do povo de Búzios. Há doze anos ele vem fazendo trocando governos para ver se consegue eleger um prefeito que corresponda às suas expectativas. Aquele que traga melhoras em suas condições de vida. Melhoras na Saúde, Educação, Trabalho e Renda, Mobilidade Urbana, Saneamento, etc. Votou em Toninho em 2004 porque queria mudança, uma outra forma/conteúdo de governo, diferente do de Mirinho. Como o governo Toninho não mudou nada, tentou nova mudança. Mas com medo de apostar muito alto, trouxe de volta ao poder o conhecido Mirinho. Como o governo Mirinho também não mudou nada, sendo um desastre igual ou pior do que o governo Toninho, o povo resolveu apostar alto no cavalo paraguaio atual.
Doutor, ou o senhor avia a receita da campanha eleitoral ou terás o mesmo destino dos inhos que nos desgovernaram, tornando-se mais um ex-prefeito em 2016, se conseguires chegar até lá. Acredito que eles nunca mais se reelegerão em Búzios, assim como acredito que o povo de Búzios continuará corajosamente apostando na mudança. Votar é como nadar, só se aprende a votar, votando.
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Sexta-feira, 31.05.13
Nas eleições de 2012 trabalhei com todas as minhas forças para impedir a reeleição do prefeito Mirinho Braga por considerá-la a pior coisa que poderia acontecer com o povo buziano. Mais quatro anos de um governo que representava uma fração da elite buziana, com todas as concessões feitas para a pequena especulação imobiliária, com certeza a cidade não resistiria. Poderia se perder aquilo que a cidade tem de mais importante- a beleza natural de seu meio ambiente. Com esse objetivo, lutei, diuturnamente, para que as oposições se unissem para derrotar aquele que para mim representava esse nocivo projeto político. E que, como tal, se apresentava como o inimigo político principal da Cidade. Nessa luta, conheci muitas pessoas e fiz algumas novas amizades com aquelas que compartilhavam comigo muitos desses pontos de vista. A especulação imobiliária, tanta a pequena defendida por Mirinho, quanto a grande, defendida por Otavinho, precisava ser contida, custasse o que custasse, sob pena de acabarmos com a nossa galinha de ovos de ouro- nosso meio ambiente especial e nossa belíssima paisagem.
Sabíamos que não bastava apenas conter a construção civil desenfreada. Precisávamos também encontrar alternativas ao modelo de desenvolvimento econômico em vigor, baseado no tripé turismo predatório, royalties e construção civil desenfreada. A criação de alternativas de trabalho e renda para a imensa maioria da população buziana demandava alto capital de investimento. Para isso, se fazia necessário conter qualquer forma de desperdício de recursos públicos com o empreguismo, clientelismo, salários de funcionários fantasmas, contratos superfaturados para financiadores de campanha, aluguéis de casas de amigos fora da realidade de mercado, terceirizações absurdamente onerosas, possíveis ralos de corrupção, etc.
Eu na minha trincheira aqui do blog, e eles nas suas, denunciávamos durante a campanha, corajosamente, tudo aquilo que considerávamos mal feitos do governo anterior. Tolerância zero com eles.
Hoje, muitos desses amigos ocupam, merecidamente, cargos comissionados no novo governo André. Digo merecidamente porque trabalharam com afinco para a eleição dele e nada mais justo que ocupem cargos de chefia e assessoramento no novo governo. O Prefeito tem que trabalhar com aqueles que contribuíram para sua eleição e com os quais tem afinidade. Nada mais justo e natural.
Depois de decorridos quase seis meses de governo, quando encontro esses amigos pelas ruas percebo um certo mal estar quando pergunto como estão as coisas. Como justificar para si mesmos a ocorrência no novo governo das mesmas práticas político-administrativas que tanto se criticava nos anteriores? De cara todos são unânimes em dizer que não concordam e, principalmente, que nada têm a ver com essas práticas. Como se fosse possível participar de um governo e nada ter a ver com os possíveis mal feitos praticados por ele. Como se fosse possível participar do governo e fazer parte de uma suposta banda boa. Como se o governo pudesse ser fracionado em duas partes, uma boa e outra ruim. Como o argumento é pueril, e consequentemente não consegue convencer ninguém, só resta pra eles o realismo do pragmatismo político como justificativa.
Pragmatismo que leva muitos a argumentar que política é assim mesmo, que política não tem jeito, que todos querem é levar vantagem mesmo. Alguns chegam a defender aqueles que roubam mas fazem, os Malufs da Região dos Lagos! Dizem que enquanto não mudarmos o sistema político brasileiro todos os políticos para se elegerem vão ter que estabelecer compromissos pré-eleitorais que terão que saldar depois, etc, etc. O novo governo não teria nada de corrupto, estaria apenas saldando seus compromissos de campanha e blá, blá, blá, mesmo que para isso tenha que fracionar e dirigir licitações. Todos os governos são assim e o de Búzios não poderia ser diferente. Fazer o quê?
Com base nessa mesma tese um prefeito do PT justificava que se desviassem recursos públicos para caixa dois do partido, mas de forma alguma permitia que esses recursos fossem usados para enriquecimento pessoal. Pagou com a própria vida por denunciar aqueles que, além de desviar dinheiro público pro partido com o seu consentimento, aproveitavam, sorrateiramente, para desviarem também recursos pro próprio bolso. O falecido ex-prefeito achava que era possível haver desvios apenas ideológicos de recursos públicos.
Mas a tese é indefensável por ser incoerente. Como justificá-la apenas para o governo atual, o governo do qual fazem parte? Como justificar as críticas contundentes ao governo anterior durante a campanha eleitoral se o governo atual faz o mesmo? Da mesma forma, como justificar as críticas de alguns secretários e do prefeito anterior ao governo atual, se fizeram o mesmo quando estavam no poder? Na verdade, tanto a situação atual quando era oposição e a oposição atual enquanto oposição, protestam contra os mal feitos apenas da boca pra fora, apenas para provocar desgaste político no adversário. No fundo, aceitam tacitamente essas práticas político-administrativas delituosas como inerentes à politica brasileira e ... buziana.
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Sexta-feira, 11.01.13
Recentemente realizei uma viagem de 8.000 km, saindo de Búzios e percorrendo o Brasil no sentido noroeste, chegando até à fronteira da Bolívia e à cidade de Lucas do Rio Verde, no Estado do Mato Grosso,quase na fronteira do Estado do Pará. Meus companheiros de viagem foram Sandro Peixoto (ex-Peru Molhado) e Beto (Gráfica Matriz). Não os tivesse como testemunhas, não ousaria produzir o relato a seguir: vimos um interior paulista de Franca até à Santa Fé do Sul, congestionado por lavouras de cana, usinas de álcool e açúcar, plantações de laranja e café e cidades riquíssimas como Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Barretos, Jaguariúna, Ilha Solteira e bandeiras do Brasil, centenas delas, semeadas aqui e acolá como símbolo do orgulho de ser brasileiro. Ultrapassamos o rio Paraná com sua imensidão impressionante e adentramos o Estado de Mato Grosso do Sul, quando, nas duas margens da rodovia BR 364 e por mais de mil quilômetros, entre São Gabriel do Oeste e Rondonópolis, foi possível perceber por que possuímos 400 bilhões de dólares de reserva internacional. Nessa região, vastíssima, o alcance da vista é ocupado por uma lavoura contínua, variando entre as culturas de soja, sorgo, milho e algodão, sempre sombreadas por enormes bandeiras do Brasil, que, pela falta de hábito, nos arrepiava sempre que apareciam. Assim foi durante nosso percurso no Estado de Mato Grosso que percorremos até à fronteira da Bolívia, no rio Guaporé, retomando o rumo norte, passando pelo Chapadão dos Parecis, totalmente tomado pela agricultura de resultado, moderna, eficiente, de alta produtividade, que encanta e entusiasma quem quer que seja que por lá transite. Silos, secadores, colheitadeiras aos milhares, aviões agrícolas, fábricas de rações, criatórios de aves e suínos em cidades modernas, ricas, punjantes em cujo ambiente se respira trabalho, respeito, dignidade e orgulho, muito orgulho de ser brasileiro e produtivo.
Tive a oportunidade de, na minha Fazenda, durante a vacinação de um lote de gado, parar o serviço, chamar um dos peões que embretava o gado, trajado à caráter (chapéu e bota americanos, camisa de pala, perneira de couro para proteger sua calça jeans legítima, lenço no pescoço e uma fivela enorme na cintura) e perguntar-lhe: qual sua profissão? Prontamente respondeu: “peão de boiadeiro”, em sequência arguí: você gosta dela? obtendo como resposta: “me orgulho muito!”. Continuando a prosa: do que mais você se orgulha?, “do meu cadilac”, respondeu-me ele apontando para uma linda mula gateada, orelhas armadas, arreamento repleto de pelegos coloridos e o resto da tralha todo confeccionado em argolas de aço inox, cujas uniões tinham sido tecidas por ele mesmo. Esse homem, como a maioria absoluta dos demais que vivem nesse meio, rudes, autênticos, altivos e orgulhosos, constroem um contexto ambiental onde o roubo, a traição e a ofensa moral, são gravíssimos desvios de conduta. Função dessa gravidade à qual todos são sensíveis, os infratores são severamente punidos, sofrendo restrições da comunidade que os excluem do convívio, quando não os submetem a sofrimentos físicos comuns naquelas paragens. Chamar um homem de ladrão, traidor ou ofender a sua mãe, pode ser motivo para uma séria hospitalização ou um velório precoce.
Claro que meus leitores ambientados aqui em Búzios, vão estranhar esse procedimento, vão creditar essa prática à um barbarismo incompatível com os tempos modernos. Homem prático que sou, procuro em minhas avaliações pessoais, comparar sempre resultados com métodos e neste caso particular, os resultados destes métodos e hábitos, são incomensuravelmente superiores aos obtidos em outros lugares nos quais a habitualidade desssas práticas as vulgarizou a ponto de integrá-las na normalidade do cotidiano, passando assim os infratores despercebidos, eis que a crítica da sociedade afrouxou estes parâmetros.
Outro diferencial não menos importante refere-se ao trabalho juvenil, que naquelas regiões distantes é habitual, corriqueiro e imprescindível. Adolescentes a partir dos 14 anos, incitados pelo exemplo de seus pares, todos envolvidos na produção, buscam freneticamente ocupações através das quais possam se capacitar a merecer respeito e admiração da comunidade. Assim, em nossa visita a Lucas do Rio Verde, pudemos constatar que somente um restaurante funcionava após as 22h, sendo seus frequentadores, todos de meia idade, nenhum adolescente. Esta cidade ostenta duas marcas invejáveis no cenário brasileiro. É a segunda melhor administrada no país e registra a menor relação bolsa-família por nº de habitantes. Será por acaso?
Como vocês sabem, hoje resido em Búzios e boêmio que sou, faço desse convívio, um laboratório de aprendizado. Não temos hino, bandeiras, história, líderes e portanto, não temos exemplos e motivação para trilhar caminhos alternativos. Tenho certeza que permanecer estacionado na mediocridade de nosso ambiente, fará com que amanhã a realidade de nossos filhos e netos, mergulhados nesses exemplos nefastos, nos encha de vergonha e culpa, pois tudo será resultado de nossa criminosa omissão.
Deixo a critério de meus leitores a tarefa de comparar as duas realidades, para encontrar então por si o abismo e a escuridão que separam o hábito que produz resultados e o que produz viciados, ociosos e criminosos.
A esperança reside na percepção de que o voto popular optou por essa mudança radical de que falo, mas ela só acontecerá com muito trabalho, perseverança, tenacidade e honradez. Mudanças se dão mediante homens e projetos, cuidemos para que não nos faltem esses elementos....
Carlos Terra
Pecuarista
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